Acordei, pronta para o meu último dia em Barcelona.
Vesti uns jeans básicos com uma camisola larga de lã cinza e umas botas de salto alto. Cabelo solto, um pouco de maquilhagem o básico.
Estava pronta para a entrevista, tomei o pequeno almoço mas a minha conversa com o Piqué ainda não me tinha saído da cabeça. Aquilo não podia estar relacionado com o que eu pensava estar. Não podia! Não agora!
Saí do hotel até aos escritórios da Vogue Espanha. A entrevista com a Yolanda correu muitíssimo bem, e as perguntas tinham sido todas fáceis de responder. No geral acabei por falar da minha colecção e do tema da mesma, dos meus trabalhos ligados ao desporto, das minhas inspirações, de futuras colecções de outros designers e um pequeno resumo da minha vida enquanto uma jovem designer. E assim em dois dias de trabalho tinha feito o que era necessário para aparecer na Vogue de Fevereiro que ia receber em primeira mão ainda nessa tarde. Sinceramente estava ansiosa para ver o resultado.
Preparei as malas e decidi ir dar uma volta pela cidade, afinal o meu avião só partia as 19h.
Acabei por visitar os locais históricos e os cafés absolutamente maravilhosos da baixa da cidade. Passei pelo Camp Nou, na minha cabeça, as ideias de isto poder a ser um futuro trabalho, apareciam agora como prós e contras. Estava na hora do treino as pessoas entravam agora pelas portas. Ainda pensei em ir assistir ao treino, mas pensei duas vezes no sucedido da noite anterior e preferi não ir. E como que num acto de coincidência, senti o meu telemóvel vibrar o que me afastou destes pensamentos.
“¿Coando vuelves a Lisboa? – Leo”
Revirei os olhos, e suspirei, era como se ele conseguisse saber o que ia no meu pensamento naquele exacto momento. Ainda pensei em não responder, mas ele não me tinha feito nada para que eu não o fizesse. Não era eticamente justo.
“-Luego, mi voolo és as la 19h…Bueno treino. –Jane”
Desliguei o telemóvel para que não tivesse que pensar mais no assunto. Voltei ao hotel, aproveitei para descansar no spa e limpar a minha cabeça. Senti a minha barriga a dar voltas, estávamos ambos com fome. E lá fui eu comer por dois. Assim a comer, mais tarde ou mais cedo ia estar a uma autentica bolinha e redondinha.
As 18h recebi uma chamada da recepção. Uma encomenda tinha chegado para mim. Era a edição exclusiva da Vogue e tinha que a guardar como se fosse a minha própria vida, afinal a revista só seria publicada nas bancas daqui a 2 semanas. E lá estava, na zona dos jovens criadores, 4 páginas preenchidas por fotos minhas com colunas de texto com tudo o que eu tinha dito. Era disso que eu gostava na Vogue. Eles colocavam apenas o que as pessoas diziam, não inventavam nada.
E eu achei fantástico, só esperava que os leitores achassem o mesmo e talvez isso me abrisse a porta para novos trabalhos.
A minha felicidade, foi imediatamente invadida por um toque suave na porta do meu quarto. Achei estranho, mas fui abrir. E juro que quando abri a porta o meu corpo congelou.
-Hola.
-Hola Leo. –foi tudo o que eu consegui dizer, e afastei-me para que ele entrasse. Engoli em seco e fechei a porta atrás dele assim que ele entrou.
-¿Vogue? ¿Puedo ver? – perguntou com a revista nas mãos.
-Sí, pienso que sí.
Vi-o abrir a revista e folhear-la até que parou na parte onde eu aparecia. Deu uma vista de olhos e por entre caras sérias e pequenos sorrisos, disse que estava muito bom.
-Que haces aqui? – perguntei-lhe directamente.
-Vin despedir-me de ti… - disse aproximando-se de mim…
O seu rosto aproximou-se do meu, senti o meu coração acelarar, parei de reagir, senti o meu corpo aquecer e provavelmente as minhas bochechas ficaram avermelhadas. Senti os seus lábios beijarem-me a face a escassos centímetros dos meus lábios. Beijo esse que deu origem a um abraço que me fez sentir o seu coração acelerado contra o meu peito, só esperava que ele não sentisse o meu.
-Leo, eres mejor ires… - disse-lhe. Não sabia minimamente o que se passava comigo, não conseguia reagir. Nem olhá-lo nos olhos.
-Sí… hace una buena viagem , despues hablamos.
-Sí… - levei-o à porta e fechei-a assim que ele saiu.
Senti o meu corpo colar-se à porta e deslizar até ao chão. Não conseguia explicar o que se passava comigo, estava frustrada e senti lágrimas escorrerem-me pelo rosto. Precisava de um abraço do Pablo, dos seus beijos, do conforto dele. Simplesmente dele! Limpei as lágrimas, peguei nas malas e fui para o aeroporto.