31.7.11

55

 

Tinha-se passado uma semana desde do acidente, e apesar da grande insistências dos meus pais para que eu ficasse a descansar no norte perto deles, eu quis voltar para Lisboa. Eu estava no estado mais depressivo que eu alguma vez tinha tido na vida… Sentia-me a bater completamente no fundo. Chorava todos os dias e sair de casa estava absolutamente fora de questão.
Tinha ficado em casa do Aimar, mas começava a achar que se calhar, não teria sido muito boa ideia.  Mal falava-mos… Sabia que ele estava a sofrer tanto, quanto eu, e que provavelmente a ultima coisa que ele queria seria falar sobre o sucedido. Sentia que tinha perdido metade de mim de cada vez que a Ana vinha lá a casa e trazia os pequenos. A ideia de saber que nunca poderei conhecer o filho que tinha dentro de mim deixava-me agora de rastos.
Sentia uma enorme necessidade de apoio… De me sentir amada! Precisava de carinho e alguém para mim… De amor… E sabia que o Aimar não estava num estado sentimental, disponível para isso. Eu tinha que sair dali. Fugir não era a melhor solução… Mas teria que ser.
Não me sentia bem, sequer com o facto de ter que lhe dizer que tinha que sair dali.
Saí quando o Pablo foi levar a pequena Sara à escola. Vesti uma roupa básica, umas leggings com um padrão florar, uma camisa e uns sapatos rasos confortáveis… Sem maquilhagem, cabelo solto e saí…

 

 

 

Passei por casa para fazer uma pequena mala… As lágrimas caiam pelo meu rosto como se de pequenos rios se tratassem … E no momento exacto em que me preparava para sair, a Sara entrou…
Vi os olhos dela, primeiro a reagir incrédulos à minha presença ali, até se focarem nos meus olhos vidrados pela lágrimas e agarrar-se a mim com um forte abraço.
-Oh Jane, não chores meu amor, eu seu que é difícil. – disse-me afagando-me os cabelos.
Ate que o seu olhar viu a pequena mala que tinha ao meu lado…
-Vais para casa dos teus pais? – perguntou…
-Não… - respondi ainda a soluçar. –Vou sair daqui!
-Vais pra onde? Jane, que se passa? Tu não estas bem, para ir a lado nenhum! E o Pablo?
-O Pablo… esta tão mal quanto eu Sara! Ele não me consegue dar o apoio de que eu preciso o amor… Sara eu tenho que sair daqui…
-Fugir? Vais fugir dos problemas tu? Tu não és assim! Vais fazer isto ao Pablo? Vais pra onde Jane?
Neste momento eu chorava desesperadamente cada vez mais… Sabia que tudo o que ela dizia era verdade mas eu não conseguia… Pela primeira vez na minha vida eu não conseguia saber exprimir em palavras sequer, o que sentia dentro de mim…
-Sara eu não sei… eu depois ligo…  - peguei na mala dei-lhe um breve beijo na testa, e saí, vendo-a ficar ali a observar-me sem reacção.
Fui de táxi até ao aeroporto de Lisboa… Fiquei por volta de meia hora parada, a tentar recompor-me e parecer normal. Permaneci sentada observando os destinos de voo… Ainda não sabia para onde ir… Não sabia como ir, pois ia ser tudo a ultima da hora… Não tinha nada marcado em lado nenhum… Nem tinha ideia de para onde ir… Até que um nome surgiu no placar dos voos. O meu olhar cruzou-se com aquela cidade, como se eu estivesse lá naquele momento. E assim me levantei e fui decidida comprar um bilhete. E de certa forma como se o destino tentasse traçar uma rota na minha vida, ainda existiam bilhetes disponíveis para o próximo voo. E nada me fez evitar. Voltei ao meu lugar normalmente e tentei manter a calma durante a próxima hora de espera. Mas não conseguia tirar da cabeça todas aquelas ideias… O nosso filho, o Pablo, eu… Sentia-me um completo trapo.
E perdi a noção do tempo nos meus pensamentos, ate  que quando dei por ela da chamada para o voo, algumas lágrimas tinham escapado dos meus olhos.
Peguei na pequena mala e segui. Nada me faria voltar atrás agora.
O voo apesar de ser curto, parecia-me uma eternidade. Não consegui pregar olho durante a viagem toda… Tinha tentado ligar para um hotel onde tinha permanecido anteriormente, mas não me conseguiam reservar um quarto, só me restava chegar lá e tentar a minha sorte.
E qual não foi a minha surpresa, chegar lá e estar a chover em pleno verão. Como se não bastasse ter onde ficar… Apanhei um táxi o mais rápido que pude e segui em direcção a um hotel na baixa da cidade. Nada… Estavam quase todos cheios… E eu que pensava que em tempo de ferias estava tudo para fora… E ta tudo cheio! Cada vez chovia mais, e eu não podia ficar eternamente sentada num canto da rua, deixando que a chuva escorresse pelo meu corpo, acompanhando as minhas lágrimas numa dança de pura tristeza.
Pensei em desistir, e pensei no que o Pablo estaria pensar agora, mas era tarde demais.
Olhei em volta, reconhecia aquele sitio… ali perto moravam pessoas que me eram bem conhecidas… E descobri assim a minha única hipótese de sobreviver ali. Subi uma pequena rua, cruzei mais acima e debaixo de chuva densa, parei enfrente a uma casa enorme, branca… Senti uma vergonha enorme de tocar a campainha, mas era isso ou dormia na rua.
Depois de dois toques, ouvi a sua voz… Uma voz conhecida que me acalentou o coração. Chorava mais que nunca agora, mas a chuva encarregava-se agora, de disfarçar bem isso.
A sua voz pareceu surpreendida por me ver ali, e em pequenos segundos vi-o abrir-me a porta e acolher-me nos seus braços incrédulos, por me ver ali, assim, encharcada, num estado mísero.
*Pablo POV*
Cheguei a casa e não vi a Jane… O que me preocupou… Ela nunca mais quis sair de casa desde que tinha vindo do hospital… E o facto de ela não estar lá… Não poderia querer dizer boa coisa… Saí imediatamente e segui até sua casa… Mas lá só permanecia a Sara com ar preocupado, envolvida no silencio da casa, e bastante quieta no sofá…
-¿Que pasa Sara? Por favor diz-me algo? ¿Donde esta Jane? Ela no esta en casa… Por favor, estoy muy preocupado con ella.
-Pablo…. Ella se fue…
-¿Como se fue?  ¿Se fue a donde?
-No lo se Pablo… Ella ay dijo que ténia que ir embora daqui… Que despues me dicia algo… Yo tambien estoy muy preocupada con ella… Ella no estaba bien.
-Pero… dios mio… ¿Es mi culpa no?
-No lo creo Pablito… Ella necessitaba amor, pero lo sabia que tu tambien te quedabas mal e que no lo poderias dar… Ella solo necessitava atencion… Tieno medo do que le puede pasar.
E de seguida o seu telemóvel vibrou… Tinha finalmente uma mensagem de Jane no seu telemóvel… Uma mensagem breve de 3 linhas, onde dizia onde se encontrava… que voltaria quando estivesse melhor, e para não se preocupar.
- ¿Y entonces? Donde esta? Yo voy a buscarla…
-No Pablo… No vas!

 


 

tags:
música: florence + the machine - heavy on your arms
sinto-me: x.x
link do postPor pablitoaimar, às 23:57  ver comentários (7) comentar

mais sobre mim